Pertencimento: a liderança que acolhe evita sofrimentos profundos
- Fernanda Monteforte
- há 4 dias
- 2 min de leitura
Nesta semana, durante uma aula que frequento com um grupo de pesquisadores, professores e profissionais do desenvolvimento humano — entre eles psiquiatras, psicólogos, coaches e especialistas em ciências comportamentais — mergulhamos num tema que, apesar de essencial, ainda é tratado como "agradável", e não como "fundamental": o pertencimento.
Uma das frases que me atravessou foi: "Pertencimento não é um desejo. É uma necessidade." E como toda necessidade humana, quando não atendida, gera sofrimento. Sofrimento real. Sofrimento profundo.
Na hora, minha mente foi direto para o ambiente corporativo — para os times que acompanho, para os líderes que treino, para os planejamentos que desenho. O quanto uma liderança consciente e assertiva pode transformar a saúde emocional de um grupo ao compreender isso? Muito. Talvez até tudo.
Uma liderança que entende a importância de criar pequenos propósitos coletivos, de dar sentido e espaço às contribuições de cada membro da equipe, está fazendo muito mais do que engajar — está cuidando.
A base neurológica do pertencimento: quando o emocional também é físico
A neurociência tem mostrado de forma muito clara que o pertencimento é uma necessidade que toca o corpo, não só a mente.
O córtex cingulado anterior dorsal, ativado tanto na dor física quanto na rejeição social, revela que exclusão social dói de verdade.
A amígdala cerebral entra em alerta quando sentimos que não pertencemos, provocando medo e retração.
A liberação de dopamina em experiências de aceitação e de ocitocina em interações sociais positivas reforça que vínculos humanos ativam nosso sistema de recompensa.
Ou seja: o pertencimento não é apenas um "mimo organizacional" — ele é fisiologicamente essencial.
Pequenas ações, grandes pertencimentos
Um líder não precisa de grandes ferramentas para gerar pertencimento. Às vezes, é só enxergar. É nomear. É envolver. Criar micropropósitos, dar sentido ao trabalho de cada um e reconhecer talentos individuais já transforma. Já reduz sofrimento. Já conecta.
Pertencer é saber que você importa. Que você é parte. E uma liderança assertiva entende que isso é estratégico — e profundamente humano.
Referências:
Eisenberger, N. I., & Lieberman, M. D. (2004). Why It Hurts to Be Left Out: The Neurocognitive Overlap Between Physical and Social Pain. Trends in Cognitive Sciences, 8(7), 294-300.
Lieberman, M. D. (2013). Social: Why Our Brains Are Wired to Connect. Crown Publishing Group.
Kross, E., et al. (2011). Social rejection shares somatosensory representations with physical pain. Proceedings of the National Academy of Sciences, 108(15), 6270-6275.
Cacioppo, J. T., & Patrick, W. (2008). Loneliness: Human Nature and the Need for Social Connection. W. W. Norton & Company.
Baumeister, R. F., & Leary, M. R. (1995). The need to belong: desire for interpersonal attachments as a fundamental human motivation. Psychological Bulletin, 117(3), 497–529.
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